quarta-feira, 18 de maio de 2011

Paz num campo de guerra

Quem assistiu ao programa Caldeirão do Huck no último sábado, dia 14, pode assistir a um projeto fantástico que é desenvolvido no Complexo do Alemão. Foram mostrados os resultados do projeto Empregabilidade, da ONG AfroReggae que, na época da gravação, em abril, já havia inserido quase 1600 pessoas no mercado de trabalho, e hoje, atualizando os dados, contabiliza 1.904, das quais 855 tiveram alguma ligação direta ou indireta com o mundo do crime ou são ex-detentos. O mais interessante é que o projeto Empregabilidade não foi idealizado por nenhum grande sociólogo ou artista de TV, mas, por um sujeito chamado Norton Guimarães. Condenado a sete anos e seis meses de prisão por assalto à mão armada, Norton cumpriu pena em Bangu III até que, em 2006, conseguiu liberdade condicional e começou a trabalhar no AfroReggae. Somente aos 49 anos, teve, pela primeira vez, um registro na carteira profissional, fato que o motivou a criar o Empregabilidade, para ajudar outros ex-detentos e moradores em situação de vulnerabilidade social. E mais, hoje, o Empregabilidade também é coordenado por Chinaider Pinheiro, ex-líder do tráfico de drogas em seis favelas do Rio de Janeiro, que já “puxou” mais de dez anos de cadeia.
“Pau que nasce torto, morre torto”... Não, não é verdade. A reportagem mostrou isso, ao destacar a história de Lulinha, soldado do tráfico e hoje um trabalhador honesto, pai de família dedicado e um marido honrado. Luciano Huck exibiu para o mundo inteiro como a sociedade, quando seus integrantes se mobilizam, consegue realizar feitos memoráveis, capazes de mudar a história não de um ou dois, mas de uma comunidade inteira. Antes de assistir ao programa, qual a imagem que tínhamos do Complexo do Alemão? Não é aquele conjunto de favelas que ficou famoso no mundo inteiro, quando um bando de traficantes, um verdadeiro exército sem farda, fugiu por uma estrada de terra? E AfroReggae, o que é? É aquele conjunto que aparece toda hora na MTV? Nada disso, trata-se de uma organização que objetiva promover “a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania.” Em síntese, transmite esperança de que o trabalho social e oportunidades de emprego são capazes de mudar a realidade de muitas pessoas e da sociedade.
Sim, gente semeando a paz por entre as trincheiras da guerra. Arte e cultura subindo pelas escadas, muros ou pelos trilhos do trem do subúrbio, sempre tão lotado. O Afro Reggae é um verdadeiro celeiro de talentos, onde se gera emprego e cria perspectivas positivas de mudança. Entretanto, a grande lição mesmo é a de que lá não há assistencialismo, mas uma crença em que o acreditar no outro gera resultados positivos para a sociedade. Os assistidos precisam perseverar, acreditar na possibilidade de serem cidadãos verdadeiros, bons pais de família, trabalhadores, enfim, gente de bem. O que eles ganham é apoio, confiança, solidariedade, o resto é por conta deles mesmos. A ONG se transforma, na verdade, num autêntico motor de oportunidades, atraindo jovens e crianças para arte e para cultura. Ela planta a paz num local que já foi campo de guerra. Que sirva de exemplo a toda sociedade.

Cabo Valter (vice-prefeito de Votuporanga)

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